Mundos Paralelos
Exposição individual realizada em 2009, na galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre.
Sobre Mundos Paralelos
A exposição Mundos Paralelos fala sobre o mundo concreto que nos rodeia, apresentando fotografias e desenho. Mas as referências que nos cercam são deslocadas, sofrem uma espécie de “giro”, um deslocamento de sentido em direção a algo que já não é o nosso mundo concreto, mas que se refere a ele.
As fotografias de cenas registradas em um circo já não falam do próprio circo, mas estão deslocadas de sua origem quando são tomadas pela escuridão que cerca as imagens. O mesmo ocorre em Paisagem de Luz, onde a imagem de um edifício em construção está deslocada da cidade, podendo ser um edifício em qualquer lugar, ou em lugar nenhum.
Universos Paralelos faz referência ao mundo concreto em que vivemos (representado pelo mapa da cidade) e ao universo que nos cerca (que na realidade é nosso próprio mundo também), o céu. O mapa da cidade dentro de uma caixa de luz ilumina o próprio céu (uma placa com furos que representam estrelas), sendo ambos interdependentes em sua existência – mapa e céu. Universos Paralelos refere-se ainda a essa relação entre a realidade em que vivemos e o céu que está sobre nós, relação que é traçada pelos homens há dezenas de séculos. O desenho do céu e da cidade são mundos paralelos onde, entre eles, vivemos.
O mundo (até o fim) são fotografias que registram o derretimento de um gelo em forma de mapa da Antártida. Nestes seis momentos (em seis fotografias), o desenho do mapa perde seus contornos e, pouco a pouco, torna-se mais etéreo e indefinido. A referência deste mapa perde-se com o derretimento do gelo.
Se os mapas são desenhos que representam lugares, são como as letras, que também são desenhos e estão no lugar da linguagem falada representando a linguagem escrita. As letras que não formam textos perdem sua função original de criar significados compreensíveis. Em Mapa II (Porto Alegre), elas já não servem para formar um texto, estão ali formando um mapa. No trabalho sem título (letras na parede), as letras tomam conta do espaço, como se as páginas de um livro estivessem perpendicularmente cravadas na parede.
As letras continuam sendo letras, mas estão deslocadas de sua função original de criar sentido através da linguagem. Já os mapas são sempre entendidos como mapas, mesmo que seu desenho não guarde a precisão da geografia que representam. Cartografia Precisa é uma série de trabalhos nos quais sobre páginas de Atlas geográficos são sobrepostos desenhos da mesma região representada, só que de outro Atlas. A variação do tipo de representação geográfica, além de imprecisões dos próprios mapas, são evidenciados. Afinal, mapas são desenhos.
Entre o mundo que nos cerca e o universo da linguagem construída, Horizonte recria uma conexão gráfica, uma linha que é contínua que vem desde o horizonte do mar até a dobra da página de um livro.
Mundos paralelos fala de desenho, de imagens, mas basicamente de representações do mundo que nos cerca, essas mesmas representações que formam o mundo como nós o conhecemos. Deslocando o olhar, deslocando o sentido de seu lugar original, ali está, um outro mundo que se abre, um mundo paralelo que dialoga com o mundo em que vivemos.
Marina Camargo
Porto Alegre, agosto de 2009