TERRITÓRIOS ATÓPICOS

Espaços e lugares, assim como paisagens e territórios, são temas determinantes na obra de Marina Camargo. Vários conjuntos de obras tratam de paisagens específicas, cujas características territoriais são artisticamente questionadas. Trata-se, principalmente, das paisagens transnacionais dos Alpes em Alpenprojekt (desde 2011), do Pampa em Tratado de Limites (2011) e do Sertão brasileiro em Como se faz um deserto (2013). Nas obras citadas, diversas facetas de “território” são objeto de profunda […]

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Marina Camargo – O longo final dos princípios

“A longo prazo, todos estaremos mortos”. Essa máxima do economista John Maynard Keynes, incluída em seu Tratado sobre a reforma econômica (1923), até hoje é discutida fervorosamente tanto pelos que apoiam quanto pelos que criticam seu pensamento. Discute-se o quanto ela funciona como legitimação do endividamento inconsequente do Estado ou como chamado à tomada de riscos necessários para que a economia faça mais no presente do que explicar fenômenos passados. […]

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Marina Camargo, qual o sentido de um mapa sem palavras e sem acidentes?

Um ateliê em Porto Alegre no bairro de Rio Branco (homenagem ao diplomata das fronteiras do Brasil) tem afinidade com as Bodas Arnolfini de Jan van Eyck. Lá se pensa uma cartografia radical adequada à geografia da violência contemporânea. No fundo da sala, esferas espelhadas aguardam uma rota – “ainda não sei o que vou fazer com elas”, sinaliza a artista. Enquanto isso, elas capturam o ambiente como o mistério […]

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DOS MAPAS EM RUÍNAS

Em um conto brevíssimo mas inspirado, Borges lembra do mapa de um império que alcançava o exato tamanho do império, coincidindo ponto por ponto com ele, mapa e império, império e mapa, em uma inesperada escala de 1 para 1. Esse delírio cartográfico, passadas algumas gerações, revelava-se inútil e terminava abandonado nos desertos, entregue às inclemências do Sol e dos invernos. O relato, de alguma forma, dá conta do fracasso […]

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Visualidades Interrompidas

(…)  Jacques Derrida (Argélia, 1930 – França, 2004) desenvolve de forma muito assertiva a questão da produção da verdade em relação ao ato fotográfico ou em relação a qualquer outro ato que “grave” algum referente. O autor indica que a performatividade desse ato aponta ao “problema da referência e da verdade: o problema de uma verdade sendo feita”… “ela produz um ponto de vista em vez de colocar-se dentro de […]

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SOBRE A MATERIALIDADE DO REFLEXO

Tema inconteste de interesse da arte, a paisagem permanentemente evoca a nossa relação com o paradigma da existência – a consciência da finitude aliada ao motor da vida, que é a ilusão de eternidade. Do romantismo alemão à land art, essa porção da natureza que se vê à distância ou se enfrenta enquanto ser, com peso, forma e força, está sempre reivindicando a experiência sensível como meio de arrebatamento diante […]

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REFLEXO DISTANTE

Com o seu percurso expositivo, REFLEXO DISTANTE nos apresenta um conjunto de recentes trabalhos realizados a partir de impressões fotográficas e vídeos, marcados por uma rede de reações variáveis, como se houvessem sido primeiramente desenhados, projetados e construídos em maquete, com a mais fina linha de derretimento de neve das cadeias montanhosas alpinas, por esse motor social anacrônico e atemporal, que é a memória. Deambulando por REFLEXO DISTANTE, percebe-se logo […]

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ACIREMA

Em 1943, no mesmo ano em que fundou o Taller del Sur, o artista construtivista e teórico da arte uruguaio Joaquín Torres-García produziu um pequeno desenho a carvão representando um continente sul-americano invertido. Um gesto simples mas ressonante, a América Invertida de Torres-García tornou-se desde então um símbolo poderoso para o que o artista outrora denominou “o Sul global” – estas regiões e terrenos moldados e formados através das histórias […]

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FISSURAS RADIAIS

Em Planisfério, a obra de Marina Camargo orbita entre dois de seus principais vetores poéticos: a tentativa de abarcar algo da amplidão e o foco mais detido sobre o particular e o indicial. Nos interstícios entre a paisagem e o confinamento, o intuitivo e o convencionado, o diluído e o determinado, a artista radicada em Porto Alegre faz do desenho a mola mestra dos seus trabalhos. Camargo, no entanto, tem […]

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ALÉM FRONTEIRAS

Ao tentar um pensamento norteador para o espaço expositivo do MARGS – em uma Bienal que tem como tema a territorialidade – focalizamos três rotas dentro do Rio Grande do Sul que, a nosso ver, propiciam visões diferenciadas e férteis a interpretações. A ideia reside, na verdade, em que as delimitações políticas das nações, no caso do Brasil e seus vizinhos, nem sempre correspondem a uma autonomia cultural encerrada dentro […]

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UMA ORDEM OCULTA DAS CIDADES

1. Na passagem dos anos 1960 para os 70, o artista norte-americano Robert Smithson realizou importantes trabalhos em que criava uma relação dialética entre “lugar” (site) e “não-lugar” (non-site), relativizando a importância do trabalho enquanto objeto, em favor da ideia mais abstrata de trajeto, absolutamente nova naquele momento. Com isso, adentrou o instrumental técnico e ideativo mais comum a profissionais como arquitetos, topógrafos ou geólogos, entre outros, realizando croquis, mapas […]

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ENTREVISTA

O advento da arte moderna na segunda metade do século XIX está atado a uma expansão dos discursos em torno da arte. A crescente oferta de textos e falas – críticas, ensaios, biografias, manifestos – inclui também as entrevistas com artistas. Pouco a pouco, ao longo do século XX, sobretudo a partir dos anos 1950, precisamente quando começam a rarear os textos mais programáticos, aqueles em que os artistas anunciavam […]

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O MAPA COMO MATÉRIA-PRIMA

1.  As fractais imagens de satélite, alinhadas por GPS com a própria circunferência da Terra, parecem ter tornado supérfluo tudo o que até então constituía a arte e ciência dos mapas. Pode ser que o Google logo provoque na cartografia um efeito semelhante ao que a popularização da foto, ao final do século XIX, causou na pintura. Isenta da tarefa de representar territórios e percursos, a cartografia poderia atingir sua […]

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DESENHO CONTEMPORÂNEO: Como Marina Camargo desenha um sentimento

O trabalho, “Sentimentos Distraídos” (fig. 1) de Marina Camargo é uma mistura ou forma híbrida de elementos de desenho e texto. Estes são ordens diversas do funcionamento da linha. Esta mistura de elementos pode não ser tradicional para o contexto da arte, mas é comum em catálogos ou manuais técnicos de instruções dos quais Camargo apropriou o estilo mais técnico deste desenho ilustrativo com texto. Essas ordens ou funções da […]

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O SILÊNCIO DAS PALAVRAS ENGAVETADAS

Ao escolher o Centro Cultural São Paulo e a sua tão utilizada biblioteca para configurar esta série de imagens, Marina inscreve-se, num primeiro momento, na linha bastante recorrente de tentar entender onde se está. Muitos artistas abordam o lugar dos seus trabalhos, valendo-se de dados arquitetônicos ou da memória dos ambientes para investigar as relações que podem se estabelecer entre obra e espaço a partir de um contexto definido. Porém, […]

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DESCONSTRUINDO E RECONSTRUINDO PERCURSOS

Entre o trabalho do artista visual e o que se escreve sobre esse trabalho existe uma tensão recíproca: um se apóia no outro de maneira instável, como numa tradução. Mas essa tensão se faz mais aguda, se evidencia mais quando o artista resolve trabalhar deliberadamente com os signos da escrita, desconstruindo-os, trazendo-os de volta a uma estranheza original. Esse é o caminho que Marina Camargo escolheu explorar. Todos nós, letrados, […]

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